O tempo é estranho. Tá, já sei, é
relativo e tudo mais. Mas o que eu estou falando é que é estranho viver, isso
é. O tempo voa, você acha que nada aconteceu, porém tudo está diferente. Daí,
quando empaca de vez é quando ele mais corre.
Comecei o ano empregada, um pouco
infeliz, porém recebendo. Tinha meus dois avôs vivinhos. Estava superando o fim
da faculdade e acreditando que o mundo ia ser melhor. Passei o carnaval em Diamantina,
só alegria. Tudo estava bem. Se não estava tão bem, não importava, pelo menos em
ordem.
Daí um vôzinho se foi. Foi
triste, porém ele sofria tanto que mereceu o descanso. Um homem bom como ele
não merecia passar pela dor diária, tanto física como mental. Ah, ele não merecia,
mas Deus sabe o que faz. E em um dia triste o levou para junto Dele e da minha
vózinha, que não vivia sem o Zé.
Um tempo se passou e o outro
vôzinho se foi também. Em um mesmo ano, com 3 meses, era dor demais. Meu peito
não estava preparado. Porém “se eu
soubesse como dói a vida, essa dor doida não doía assim”. O Vô David,
eterno garçom e contador de “causos” foi contar lá no céu todas as suas
histórias e experiências de vida.
O ano estava cinza, mesmo com
tanta alegria, as tristezas estavam pesando. No trabalho entre stress, traições,
injustiças e algo mais fui demitida. Todo o sonho de recém formada e esperança
de vida melhor, jogadas na sarjeta. Força diz a razão, mais a emoção não aguenta tantos baques.
Tristeza, falta de esperança e todo
sentimento bom se esvai. A fé como uma chama, perde a força e quase apaga. As
amizades se vão, poucos ficam. Ninguém aguenta o mau humor. A decepção nos
olhos dos pais corta o coração já judiado. Aquela luz no fim do túnel se apaga
e não é possível encontrar a saída.
Um convite, aceito assim sem
querer, meio desavisada. Tentei resistir, desistir, fingir que não tinha feito
a inscrição. Porém, uma mãe determinada consegue milagre, e nesse caso 2 a do
Céu e a da Terra.
Um encontro único no qual Deus
agiu de forma incrível, tirando como camadas aquilo que me corroía. Me senti
São Tomé, como se Deus estivesse esfregando na minha cara vários sinais.
Chacoalhando meu ombro e falando: “acorda menina, sai dessa, não foi pra isso
que te coloquei no mundo”.
Primeiro a raiva recente, a falta
de perdão que me corroía. Daí eu pensei “foi por isso que vim aqui”. Daí, veio
a segunda camada, o meu reflexo em meus pais, e o que os fazia sofrer com a
minha dor e impaciência, e mais uma vez pensei “foi por isso que vim aqui”.
E lá vem Ele de novo, me colocando na mesma
situação que O havia encontrado pela primeira vez há muitos anos atrás, o mesmo
choro descontrolado, o coração acelerado, o vento no rosto e a sensação que Ele
estava ali, e eu O havia perdido. Até a música foi a mesma da primeira vez que
fui àquela missa de cura e libertação, com meus 10, 12 anos “sozinho eu não
posso mais viver”. E nessa hora pensei “foi por isso que vim aqui”.
Porém Deus me conhece melhor que
eu mesmo me conhecia, e em outro momento, mais uma vez me curou, dessa vez do
que eu não sabia que precisava ser curada. Ele me livrou de todo sentimento de
inferioridade que sempre me atrapalhou a evoluir. A falta de fé em mim. Pelo
menos foi o que uma mulher que nem lembro o rosto me falou e então pensei
finalmente “foi por isso que vim aqui”.
Ainda sem emprego vou seguindo,
agora com a fé de Deus sabe o que faz e me prepara o caminho. Caminho esse que
só vou entender quando percorrer. Longe de mim duvidar novamente.